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KHM 179
Era uma vez uma mulher muito velha, que vivia com um bando de gansos num lugar vazio no meio das montanhas, e lá ela vivia numa pequena casinha. E esse lugar abandonado era cercado por uma imensa floresta, e todos os dias de manhãzinha a pobre velhinha pegava a sua muleta e sai mancando com ela. Lá, entretanto, a senhora era muito ativa, mais do que se poderia pensar, considerando a sua idade, e ela colhia ervas para os gansos, pegava todas as frutas selvagens que ela conseguia alcançar, e levava para casa, carregando tudo nas costas.
Qualquer um poderia pensar que a pesada carga poderia ser um peso excessivo para ela, mas ela sempre trouxe tudo aquilo e nunca teve nenhum problema. Se alguém se encontrava com ela, ela o saudava com muita cordialidade. "Bom dia, meu bom amigo, está um lindo dia. Ah! você pode estar pensando porque eu levo uma carga tão pesada, mas todos nós precisamos levar nas costas a nossa carga." Não obstante, as pessoas não gostavam de se encontrar com ela quando poderiam ajudá-la, e de preferência pegavam um atalho de volta, e quando um pai passava com seus filhos perto dela, ele falava para eles em voz baixa, "Lá vem a velhinha.
"Ela tem garras debaixo das luvas; ela é uma bruxa." Um dia, de manhã, um belo rapaz estava indo pela floresta. O sol brilhava alto, os pássaros cantavam, e uma brisa suave caía por entre as folhas, e ele estava todo feliz e contente. Ele ainda não havia encontrado ninguém, quando de repente ele avistou a velha bruxa ajoelhada no chão, e que, com uma foice cortava ervas. Ela já havia colhido uma quantidade muito grande dentro do seu saco, e perto dele havia dois cestos, que estavam cheios de maçãs e peras selvagens. "Mas, querida mãezinha," disse ele, "como é que a senhora consegue levar tudo isso nas costas?"
"Eu tenho de levar tudo isto, meu caro jovem," respondeu ela, "os filhos dos ricos não precisam fazer essas coisas, mas com os filhos dos aldeões o ditado é diz o seguinte, se você é corcunda, nunca olhe para trás!"
"Você poderia me ajudar?" disse ela, porque ele permanecia por perto. "As suas costas e as suas pernas ainda estão firmes, seria muito fácil para você. Além do mais, a minha casa não fica muito distante daqui, ela fica ali perto do brejo e atrás da colina. Você chegaria lá muito rápido." O jovem rapaz ficou com pena da velhinha. "Meu pai não é um aldeão," respondeu ele, "mas um rico também tem o seu valor; não obstante, para que a senhora veja que não é somete os aldeões que podem carregar pesos, eu vou levar o saco para a senhora."
"Se você fizer isso" disse ela, "Eu ficarei muito feliz.
Você certamente terá de caminhar uma hora, mas isso não significa nada para um jovem forte como você; você deve carregar as maçãs e as peras também!" Para o jovem rapaz isso parecia uma grande moleza, quando ele ouviu que levaria apenas uma hora, mas a velhinha não lhe dava descanso, amontoou o saco nas costas do rapaz, e pendurou os dois cestos com as frutas em seus braços. "Veja, eles são bem leve," disse ela. "Não, eles não são leves," respondeu o conde, e fez uma cara que estava arrependido. "Na verdade, o saco pesava tanto que parecia que ele estava cheio de pedras, e as maçãs e as peras eram tão pesadas quanto chumbo! Ele mal conseguia respirar."
Ele pensou em largar tudo, mas a velhinha não permitia que ele fizesse isso. "Veja só," disse ela, fazendo gracejos, "o jovem cavalheiro não consegue carregar o que eu, uma velhinha, carrego todos os dias. Ele fala bonito, mas quando chega a hora de demonstrar, ele já pensa em desistir. Porque você está demorando tanto?" ela continuou. "Vamos. Ninguém irá querer levar o saco novamente." Enquanto ele caminhava pelo chão plano, tudo era suportável, mas quando eles chegaram perto de uma colina e precisavam subir, e os pedriscos começavam a rolar sob seus pés como se estivessem tentanto derrubá-lo, ele não aguentou mais.
As gotas de suor vertiam de sua testa, e escorriam, quentes e úmidas, pelas costas. "Dona," disse ele, "Eu não consigo andar mais. Preciso descansar um pouco."
"Agora não," respondeu a velhinha, "quando chegarmos no final da nossa caminhada, você poderá descansar; mas agora você deve seguir adiante. Quem sabe o bem que isso vai lhe fazer?"
"Velhinha, a senhora está perdendo a vergonha!" disse o conde, e tentou se desfazer do saco que estava carregando, mas ele se esforçava em vão; ele estava tão colado nas suas costas que parecia ter nascido ali.
Ele virava e se contorcia, mas não conseguia se livrar do peso. A velhinha ria do esforço que ele fazia, e dava pulos de alegria com a sua muleta. "Não fique bravo, caro rapaz," disse ela, "você está ficando com o rosto tão vermelho como um peru! Carregue a trouxa pacientemente. Eu lhe darei uma boa recompensa quando nós chegarmos em casa."
O que ele poderia fazer? Ele era obrigado a se submeter ao seu destino, e ir-se arrastando pacientemente atrás da velhinha. Parecia que ela ficava cada vez mais ágil, e o peso da carga aumentava cada vez mais. De repente ela deu um salto, e pulou em cima da trouxa que ele carregava e se sentou bem no alto; e por mais magrela que ela fosse, ela era mais pesada do que a camponesa mais gorda. Os joelhos do jovem tremiam, mas quando ele queria parar, a velhinha batia nas pernas dele com uma varinha que doía como se fosse varinha de urtiga. Resmungando sem parar, ele subiu a montanha, e finalmente chegou na casa da velhinha, quando ele estava quase desmaiando de cansaço.
Quando os gansos perceberam a chegada da velhinha, eles bateram suas asas, esticaram seus pescoços, e correram para encontrar-se com ela, grasnando o tempo todo. Atrás do bando de gansos ia, com uma vara na mão, uma velha aldeã, forte e robusta, mas tão feia quanto uma noite fria. "Minha boa mãe," disse a aldeã para a velhinha, "aconteceu alguma coisa com a senhora, a senhora demorou tanto?"
"De jeito nenhum, minha filhinha querida," respondeu ela, "Nada de ruim me aconteceu, mas, pelo contrário, este gentil cavalheiro, decidiu levar a trouxa para mim; veja só, ele até me carregou nas costas quando eu estava cansada.
O caminho também não nos pareceu muito demorado; viemos andando alegres, e fazendo brincadeiras um com o outro o tempo todo." Finalmente a velhinha desceu das costas do jovem, tirou a pesada trouxa, e os cestos que ele trazia nos braços, olhou para ele com muita gentileza, e disse, "Sente-se agora no banco diante da porta, e descanse. Você ganhou honestamente o seu salário, e nada lhe faltará." Então, ela disse para a pastora de gansos, "Vá lá dentro de casa, minha querida, não fica bem para você ficar sozinha com um jovem cavalheiro; alguém pode derramar óleo no fogo, e ele pode se apaixonar por você."
O conde não sabia se ele devia chorar ou sorrir. "Uma beleza como aquela," pensou ele, "jamais tocaria meu coração, ainda que ela fosse trinta anos mais jovem." E dizendo isso, a velhinha acariciava e afagava os seus gansos como se fossem seus filhos, e depois entrou dentro de casa junto com a filha. O jovem ficou estendido no banco, debaixo de um pé de maçã selvagem.
O ar estava agradável e suave; por todos os lados havia campos espalhados, cheios de primaveras, tomilhos selvagens, e milhares de outras flores; e no meio delas um riacho cristalino ondulava silenciosamente refletindo o brilho do sol, e os gansos branquinhos continuavam andando pra frente e para trás, ou, algumas vezes, chapinhavam na água. "Aqui é um lugar delicioso," disse ele, "mas eu estou tão cansado que não consigo manter meus olhos abertos; vou dormir um pouquinho. Desde que uma rajada de vento não venha e leve as pernas do meu corpo, porque elas estão podres e fracas."
Depois que ele dormiu um pouquinho, a velhinha veio e o sacudiu até que ele acordou. "Levante-se," disse ela, "você não pode ficar aqui; é certo que eu tratei você com uma certa descortesia, mesmo assim isso não lhe custou a vida. De diinheiro e de terras você não precisa, aqui está uma boa recompensa para você." Dizendo isso ela colocou um pequeno livro em suas mãos, o qual havia sido recortado de uma única esmeralda. "Tome muito cuidado com ele," disse ela, "ele lhe trará boa sorte." O conde deu um pulo, e quando ele sentiu que já havia descansado o bastante, e já havia recuperado todas as suas forças, ele agradeceu à velhinha pelo presente, e foi embora sem nem mesmo olhar para trás para a sua bela filha. Depois que ele havia caminhado algum tempo, ele ainda ouvia a distância a ruidosa folia dos gansos.
Durante três dias o conde vagou pela floresta antes de achar a saída. Ele então, chegou a uma grande cidade, e como ninguém o conhecia, ele foi conduzido até o palácio real, onde o rei e a rainha estavam sentados em seus tronos. O conde caiu de joelhos, tirou o livro de esmeralda do seu bolso, e o depositou aos pés da rainha. Ela pediu que ele se levantasse e lhe entregasse o pequeno livro. No entanto, mal ela abriu o livro, e olhou dentro dele, e ela caiu ao chão como se estivesse morta. O conde foi capturado pelos soldados do rei, e estava sendo levado para a prisão, quando a rainha abriu os olhos, e ordenou para que o soltassem, e ela pediu para que todos saíssem, porque ela queria falar com ele em particular.
Quando a rainha se viu sozinha, ela começou a chorar dolorosamente, e disse, "Oh, de que me valem os esplendores e as honras de que vivo rodeada; todas as manhãs eu acordo com dor e tristeza. Eu tive três filhas, a mais jovem delas era tão linda que todos a olhavam como se olhassem para um grande tesouro. Ela era tão branca como a neve, e rosada como as flores da maçã, e os cabelos dela eram tão brilhantes como os raios de sol. Quando ela chorava, não eram lágrimas que caiam dos seus olhos, mas somente pérolas e pedras preciosas. Quando ela completou quinze anos, o rei mandou chamar as três filhas para que se apresentassem diante do trono.
Você precisava ver como todas as pessoas ficavam olhando quando a filha mais jovem entrou, era como se o sol estivesse nascendo naquele momento! Então, o rei falou, "Minhas filhas, eu não sei quando chegará meu último dia; portanto, decidirei hoje o que cada uma de vocês receberá quando eu morrer. Sei que todas vocês me amam, mas aquela de vocês que me amar mais, receberá a melhor parte." Todas elas diziam que o amavam mais. "Você seria capaz de demonstrar para mim," disse o rei, "o quanto você me ama, e então, eu compreenderei o que você quer dizer?" A mais velha falou. "Eu amo meu pai mais que o açúcar mais doce."
A segunda, "Eu amo meu pai mais do que o vestido mais lindo." Mas a filha mais jovem ficou em silêncio. Então, o pai falou, "E tu, minha querida filhinha, quanto você ama o papai?"
"Eu não sei, e não consigo comparar o meu amor com nada." Mas o seu pai insistiu que ela deveria compará-lo com alguma coisa. Então, ela disse, "O melhor alimento não fica bem para mim se não tiver sal, portanto, eu amo meu pai assim como amo o sal." Quando o rei ouviu isso, o rei ficou decepcionado, e disse, "Se você me ama como o sal, o teu amor também será retribuído com sal."
Então, ele dividiu o reino entre as duas mais velhas, e mandou para que um saco de sal fosse colocado nas costas da filha mais jovem, e dois criados a conduziram para fora e a mandaram para a floresta selvagem. Todos nós choramos e imploramos por ela," disse a rainha, "mas a raiva do rei não diminuía. Como ela chorou quando teve de nos deixar! todo o caminho ficou cheio de pérolas que escorriam dos olhos dela. Pouco depois, o rei se arrependeu por ter sido tão severo, e mandou para que procurassem em toda a floresta pela pobre filha, mas ninguém nunca conseguiu encontrá-la.
Quando eu achava que os animais selvagens a haviam devorado, eu não sei como consegui conter a minha grande tristeza; muitas vezes me consolei com a esperança de que ela ainda vivia, e poderia estar escondida numa caverna, ou ter encontrado abrigo junto a algumas pessoas piedosas. Mas veja só você, quando eu abri o seu pequeno livro de esmeralda, havia uma pérola dentro dele, de exatamente do mesmo tipo daquela que costumava cair dos olhos da minha filha; e então, você pode também imaginar como a visão desta jóia agitou o meu coração. Você deve me dizer como essa pérola veio parar em tuas mãos." O conde disse a ela que ele havia recebido de presente de uma velhinha que morava na floresta, e que parecia muito estranha para ele, e que talvez fosse uma bruxa, mas ele nunca tinha visto nem ouvido falar da filha da rainha.
O rei e a rainha decidiram ir atrás da falada velhinha. Eles acreditavam que ali onde a pérola fora encontrada, ele teriam notícias da filha deles.
A velhinha estava sentada naquele lugar solitário junto à sua roda de fiar, e fiava o dia todo. Já estava escuro, e a lenha que estava queimando na lareira espalhava uma luz bruxuleante. De repente ouviu-se um barulho lá fora, os gansos estavam voltando para casa depois de um passeio, e faziam um escarcéu com suas gargantas estridentes. Pouco tempo a filha também entrava. Mas a velhinha raramente lhe agradecia, no máximo balançava a cabeça um pouquinho. A filha se sentou ao lado dela, tomou o seu espaço junto a sua roda de fiar, e trançou os fios com tanta agilidade como uma jovem garotinha. E assim as duas ficaram sentadas durante duas horas, sem trocar nem sequer uma palavra.
Subitamente alguém fez um ruído junto a janela, e dois olhos de fogo olharam para dentro onde elas estavam. Era uma velha coruja, que exclamou, "Uhu!" três vezes. A velhinha foi dar uma olhada, e disse, "Agora, minha filhinha, é hora de saíres para fazeres o teu trabalho." Ela se levantou e saiu, e para onde ela foi? Para além dos campos que ia em direção ao vale. Finalmente ela chegou perto de uma fonte, onde três pés de carvalho se erguiam orgulhosos e imponentes; enquanto isso, a lua ali pairava cheia e redonda por cima das montanhas, e ela iluminava tanto, que até uma agulha poderia ser encontrada.
Ela removeu uma máscara que lhe cobria o rosto, e depois inclinou-se em direção à fonte de água, e começou a se lavar. Quando ela terminou, ela mergulhou a máscara também dentro da água, e a estendeu na relva, para que se alvejasse sob a luz do luar, e se secasse novamente. Mas agora a garota havia se transformado! E uma mudança como aquela nunca havia sido vista antes! Quando a máscara escura foi removida, seus cabelos dourados brilharam como raios de sol, e se espalharam como um manto por todo o seu corpo. Seus olhos cintilavam como as estrelas do céu, e sua face rosada resplandecia como a beleza das flores de maçã.
Mas a bela garota exibia uma tristeza imensurável. Ela se sentou e chorava muito. Lágrimas ininterruptas teimavam em sair dos seus olhos, e rolavam pelos seus longos cabelos até cairem ao chão. E ali ela ficou sentada, e teria permanecido sentada durante longo tempo, se ela não tivesse ouvido alguns ruídos e o farfalhar das folhas de uma árvore nas imediações. Ela pulava cheia de alegria, qual se fosse atingida pelas flechas de um caçador. Só então, a lua ficou escura por causa de uma nuvem negra que passava, e num instante a jovem tornou a colocar a antiga máscara e desapareceu, como a luz soprada pelo vento.
Ela voltou para casa, trêmula como uma folha de faia. A velhinha estava esperando por ela na entrada, e a garota iria lhe contar tudo o que tinha sucedido com ela, mas a velhinha riu delicadamente, e disse, "Eu já sei de tudo." Ela conduziu a filha para dentro da casa a ateou fogo num outro toco de madeira. No entanto, ela não se sentou perto da sua roda de fiar novamente, porém, ela foi buscar uma vassoura e começou a varrer e a arrumar a casa, "Tudo deve estar limpo e arrumado," disse ela para a garota. "Mas, mãe," disse a garota, "porque você começa trabalhar tão tarde da noite? O que você pretende?"
"Você já sabe que horas são?" perguntou a velhinha.
"Ainda não é meia noite," respondeu a garota, "mas já passa das onze horas."
"Você não se lembra," continuou a velhinha, "que já faz três anos desde que você chegou aqui? O seu tempo está vencendo, e nós não poderemos mais ficar juntas." A garota assustou-se, e disse, "Oh, não! minha querida mãe, a senhora irá me expulsar? Para onde eu irei? eu não tenho amigas, e nenhum lugar para onde eu possa ir. Eu sempre fiz tudo o que a senhora me pediu, e a senhora sempre ficou contente comigo; não me mande embora, por favor." A velhinha não queria dizer à garota o que iria acontecer com ela.
"A sua permanência nesta casa está chegando ao fim," disse ela para a filha, "mas, quando você partir, toda a casa deve estar limpa: portanto, não atrapalhe o meu trabalho. Não se preocupe consigo mesma, tu encontrarás um teto para te abrigar, e o dote que eu te darei também irá te ajudar."
"Mas me diga o que vai acontecer," a jovem continuou a insistir. "Estou lhe dizendo, não atrapalhe o meu trabalho. Não diga nem mais uma palavra, vá para o teu quarto, tire a máscara da tua cara, e coloque a máscara de seda que você tinha quando você chegou aqui, e depois fique esperando no teu quarto até eu lhe chamar."
Mas ainda eu preciso falar um pouco mais sobre o rei e a rainha, que partiram em viagem em companhia do conde para procurarem a velhinha que morava na floresta. O conde havia se perdido do rei e da rainha durante a noite na floresta, e teve de seguir caminhando sozinho. No dia seguinte, pareceu-lhe que ele havia pegado a trilha certa. Ele então, continuou seguindo, até que começou a escurecer, então, ele subiu numa árvore, e pretendia passar a noite ali, pois ele tinha medo de perder o caminho novamente. Quando a lua começou a iluminar os campos adjacentes ele avistou uma figura que vinha da montanha.
Ela não tinha nenhuma vara na mão, mesmo assim ele pode ver que era a pastora de gansos, que ele tinha visto antes na casa da velhinha. "Ooh," exclamou ele, "lá vem ela, e se eu uma vez me senti prisioneiro de uma das bruxas, a outra não me escapará!" Mas como ele ficou surpreso, quando ela foi em direção à fonte, removeu a máscara e depois a lavou, quando os seus cabelos dourados deslizaram por todo o corpo dela, e ela ficou mais linda do que qualquer pessoa que ele houvesse visto antes em todo o mundo. Ele nem sequer conseguia respirar, mas esticou a sua cabeça o máximo que conseguiu por entre as folhas, e ficou olhando para ela.
Não sei se ele se inclinou demais, ou qualquer que fosse o motivo, o galho que ele estava subitamente se quebrou, e naquele mesmo instante a jovem recolocava a máscara, e pulava de felicidade, e assim a lua desapareceu de repente, e ela desapareceu diante dos seus olhos. Mal ela tinha desaparecido, e o conde tinha descido da árvore, e ele correu depressa atrás dela a passos rápidos. Não havia se passado muito tempo depois que ele a encontrara, no crepúsculo, e duas figuras conhecidas se aproximavam do campo. Eram o rei e a rainha, que haviam percebido à distância a luz que bruxuleava na pequena casa da velhinha, e estavam caminhando em direção a ela.
O conde lhe contou todas as maravilhas que ele havia testemunhado junto à fonte, e eles agora tinham certeza de que se tratava da filha que eles haviam perdido. Eles seguiram caminhando cheio de alegria, e pouco depois chegaram à humilde choupana. Os gansos passeavam ao redor da casa, e tinham enfiado suas cabeças debaixo de suas asas e estavam dormindo, e nem um deles se moveu. O rei e a rainha olharam pela janela, a velhinha estava sentada lá dentro bem tranquilava e fiava, de vez em quando balançava a cabeça e nunca olhava ao redor. A casa estava perfeitamente limpa, como se os pequenos elfos, que varrem a poeira com seus pés, vivessem naquele lugar.
A filha deles, no entanto, não havia percebido a sua chegada. Durante muito tempo eles ficaram admirando, e de repente criaram coragem, e suavemente bateram na janela. A velhinha veio atender pois ela há muito os estava esperando; ela se levantou, e gritou amavelmente, "Entrem, – Eu já conheço vocês." Depois que eles entraram na casa, a velhinha disse, "Vocês poderiam ter poupado essa longa caminhada, se vocês não tivessem expulsado injustamente a filha de vocês, que é tão boa e amável. Nada de mal lhe aconteceu; porque durante três anos ela procurou tomar conta dos gansos; e em companhia deles ela não conheceu o perigo, mas preservou a pureza do seu coração.
No entanto, você foram suficientemente punidos pela desgraça em que vocês viveram até hoje." Então, ela foi até o quarto e chamou, "Venha, minha filhinha." E então, a porta se abriu, e a princesa se aproximou com seu vestido de seda, os seus cabelos dourados e os seus olhos cintilantes, e era como se um anjo do céu tivesse entrado.
Ela se aproximou do seu pai e da sua mãe, caiu de joelhos diante deles e os beijou; e não teve jeito, todos eles choravam de alegria. O jovem conde ficou do lado deles, e quando ela o avistou, ela ficou com o rosto corado com uma rosa coberta de orvalho, e nem mesmo ela sabia dizer o porquê. O rei então, falou, "Minha querida filha, eu já doei todo meu reino, o que eu te darei agora?"
"Ela não precisa de nada," disse a velhinha. "Eu ofereço a ela as lágrimas que ela chorou por culpa do destino; são pérolas preciosas, mais belas do que aquelas que podem ser encontradas no fundo do mar, e que valem mais do que todo o teu reino, e também dou a ela a minha pequena casa como recompensa pelos serviços que ela me prestou."
Quando a velhinha disse isso, ela desapareceu da frente deles. Nas paredes ouviu-se um estrondo, e quando o rei e a rainha olharam em volta, a pequena casinha havia se transformado num magnífico palácio, uma mesa real havia se estendido, e os criados iam apressados de um lado para outro.
A história ainda não terminou, mas a minha avó, quando ela me fez esse relato, havia perdido a memória parcialmente, e não se lembrava do resto. Eu sempre acreditei que a bela princesa se casou com o conde, e que eles permaneceram juntos no palácio, e viveram lá muito felizes até quando Deus o permitiu. Dizem que os gansos que eram brancos como a neve, e que brincavam ao redor da pequena cabana, eram na verdade jovens garotos (sem nenhuma ofensa) a quem a velhinha havia tomado sob sua proteção, e que eles agora retomavam a forma humana, e se tornaram criados da jovem rainha, não sei exatamente como isso aconteceu, mas eu desconfio que foi assim.
Talvez seja isso mesmo, pois a velhinha não era nenhuma bruxa, como as pessoas pensavam, mas, uma fada, que desejava toda a felicidade. Muito provavelmente, foi ela quem, durante a nascimento da princesa, deu a ela o dote das pérolas que caíam do olhos dela quando ela chorava, ao invés das lágrimas. Hoje, isso não acontece mais, lógico, caso contrário, os pobres ficariam ricos.
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