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Os Doze Caçadores

KHM 067

Há muito tempo atrás aconteceu que um príncipe ficou noivo da filha do rei de um país vizinho. Eles se amavam muito e, quando festejavam o noivado, veio a notícia de que o pai dele estava muito mal. Então, despedindo-se apressadamente, o príncipe colocou um precioso anel no dedo da noiva e lhe disse:

"Este anel é para você não se esquecer de mim. Tenho que deixá-la agora, mas, assim que me tornar rei, virei buscá-la.

E, beijando-a, partiu. Chegando ao castelo do pai, encontrou-o já moribundo e seu pesar foi tão grande que nem se lembrou de comunicar-lhe o noivado.

"Filho querido,"

"disse o velho rei com voz muito fraca"

"dentro em breve partirei para a Grande Viagem. E só irei tranqüilo se você me prometer casar-se com aquela que eu escolhi. E ele disse o nome de uma princesa de um distante reinado.

Não querendo contrariar o velho e querido pai em seus últimos instantes de vida, o príncipe respondeu:

"Sim, meu pai, Ela será minha esposa.

O velho rei morreu serenamente e, passado o período de luto, o príncipe tornou-se rei e foi obrigado a cumprir o prometido. Pediu em casamento a princesa escolhida pelo pai e foi aceito.

Quando a primeira noiva soube disso, quase morreu de desgosto. Seu pai, vendo-a tão abatida, disse:

"Filha, se o seu noivo não cumpriu a promessa que lhe fez, é porque não a merece.

Não fique triste. Peça o que quiser que lhe darei.

E ela respondeu:

"Paizinho, será que podia me arranjar onze moças iguaizinhas a mim? Com a minha altura, o meu tipo?

"Nem que seja para revirar o mundo, você vai ter as suas moças"

"prometeu-lhe o pai. E, naquele mesmo dia, mandou procurar por todo o reino as onze moças que a filha queria.

Passou uma semana e elas estavam no palácio. Então a princesa mandou fazer doze costumes de caçador, todos iguaizinhos e, quando ficaram prontos, ela e as moças vestiram-se com eles. Depois despediu-se do pai, montou seu cavalo e, acompanhada das moças, dirigiu-se para o reino de seu ex-noivo, a quem continuava amando. Chegando lá, apresentou-se ao rei e perguntou-lhe se não estava precisando de caçadores e se não queria tomar a seu serviço todos eles juntos. O rei não a reconheceu, mas gostou daquela turma de rapazes jovens e bonitos. E, desde esse dia, eles se tornaram os doze caçadores do rei.

Contudo, o rei tinha um leão que o acompanhava por toda a parte, um animal maravilhoso que sabia falar e adivinhava as coisas mais secretas e ocultas. Uma noite, estando os dois conversando, o leão disse:

"Então você imagina que tem doze caçadores...

"Imagino não! Eu tenho"

"corrigiu o rei.

"Seria mais exato dizer "doze caçadoras"

"tornou o leão.

"Por que diz isso?

"Por que são doze moças.

"Não é possível!"

"e o rei exigiu que ele provasse o que dizia.

"Isso é fácil! Mande espalhar ervilhas na sua ante-sala, chame os caçadores e verá. Homens têm o passo firme. Quando pisam sobre ervilhas, elas não saem do lugar. Mulheres... Bah! Vai ver só como tropeçam, escorregam e espalham ervilhas para todos os lados.

O rei gostou do conselho e assim fez. Aconteceu que o camareiro real ouviu a conversa e, como simpatizava com os caçadores, assim que pôde, foi procurá-los e contou-lhes tudo. A princesa agradeceu-lhe e, depois que ele saiu, ordenou às companheiras:

"Amanhã vocês têm que se controlar e pisar firme sobre as ervilhas. Nem uma só pode rolar.

No outro dia, quando foram chamados pelo rei, os caçadores entraram na ante-sala pisando as ervilhas com tanta firmeza que nem uma só rolou. Depois que se retiraram, o rei chamou o leão e disse:

"Desta vez você se enganou. Meus caçadores pisam como homens!

"É porque elas souberam que iam ser postas à prova e se prepararam"

"respondeu o leão."

"Mande trazer doze rocas para a sua ante-sala e vai ver o que acontece. Quando passarem por elas, mulheres que são, vão se deter e se alegrar. Homens não fazem isso.

O rei concordou. Porém, o camareiro real, também desta vez, escutou a conversa e foi prevenir os caçadores.

Quando ficaram a sós, a princesa recomendou às companheiras:

"Cuidado! Vocês têm que passar pelas rocas sem olhar para elas!

No dia seguinte, atendendo ao chamado do rei, elas atravessaram a ante-sala sem dirigir sequer um olhar para as rocas. Depois que saíram, o rei disse ao leão:

"Viu? Eles nem repararam nas rocas!

"Claro! Elas vieram prevenidas! Experimente...

"Não vou experimentar mais nada! E pare de se referir aos meus caçadores como "elas"!

O leão retirou-se com um ar ofendido e o assunto foi esquecido. O rei continuou com suas caçadas, sempre com seu grupo de rapazes, cada vez gostando mais deles e, entre todos, o seu preferido era a princesa. Um dia, durante uma caçada, vieram avisar que a noiva oficial estava a caminho. Ao ouvir isso, a princesa ficou tão magoada que desmaiou. O rei correu em sua ajuda e, querendo reanimá-la, tirou-lhe a luva. Então viu o anel que lhe havia dado e, observando seu rosto, reconheceu-a. Quando ela abriu os olhos, beijou-a, dizendo:

"Nós nos pertencemos um ao outro. Nada no mundo mudará isso!

E ela respondeu baixinho, aninhando-se nos braços dele.

"Entre doze caçadores semelhantes, você me preferiu e agora sabe porque...

E o rei mandou uma mensagem à outra noiva, pedindo-lhe que voltasse para o seu reino, pois ele encontrara a esposa que havia perdido. Dias depois o casamento realizou-se com uma linda festa e, mais feliz que os noivos, estava o leão. Seu dom de adivinhar, mais do que nunca, foi reconhecido e valorizado e ele era agora o conselheiro do rei.

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